Coluna Ponto a Ponto (27/05) – História e Política

Coluna Ponto a Ponto (27/05) – História e Política

PONTO I - A coluna buscará pensar os acontecimentos políticos do momento a luz da história. Isso tem um sentido bastante particular, pois estaremos sempre perguntando como foi possível chegar onde chegamos e nos tornar o que nos tornamos? E, acima de tudo, o que foi silenciado, derrotado, excluído, deixado pelo caminho para que chegássemos aonde chegamos e nos tornássemos o que nos tornamos? Só o olhar para o tempo e para a história é capaz de nos apontar respostas. PONTO II - Vivemos um século em uma semana. Impressiona como, em nosso tempo, os acontecimentos se sucedem de forma vertiginosa. Velocidade, intensidade, volume. Os acontecimentos vêm em cascata. Mal conseguimos dar conta do último e já fomos tragados pelo próximo. Gritamos crise, crise, crise. Estamos a deriva e em meio a tempestade. PONTO III - A semana que ora termina, foi uma dessas que vale por um século. Os homens do século XVI, no Brasil, mesmo que tenham vivido o século inteiro, jamais viveram tantos e tão intensos acontecimentos como vivemos esta semana. Aliás, vivemos num tempo alongado em que passado e futuro deixaram de existir. 2013 ainda não acabou. PONTO IV - Mas deixemos de abstrações e vamos a alguns acontecimentos da semana. São Paulo foi jogada de volta ao século XVIII pelo gestor do XXI. Dória (imagem) retoma, sob a Cracolândia, a mesma política higienista que caracterizou as reformas urbanas e o bota abaixo de finais do século XIX. Fez Pereira Passos corar. A Cracolândia é o nosso novo Cabeça de Porco, cortiço símbolo do bota abaixo e das reformas higienistas do XIXI. PONTO V - Brasília, 24 de Maio de 2017. Manifestações. Movimentos sociais e sindicais nas ruas. Repressão e exército nas ruas. Enfrentamentos, sangue, muito sangue. Tiros, porrada e bomba. A democracia vive, diz o governo. A democracia sangra, estuprada, todos os dias. Digo eu. O que aconteceu em Brasília neste dia em nada diferente dos piores dias de repressão da ditadura. O passado, no Brasil, teima em não passar. Ele se faz presente. Tragicamente presente. PONTO VI - Dia 24 de Maio de 2017. Pará. Dez mortos chacinados pela polícia em um ato de "reintegração de posse". Devolve-se a propriedade da terra aos coronéis da casa grande ao preço, cada vez mais barato, da desapropriação da vida dos excluídos da senzala. Redenção reencontra El Dourado, dos Carajás, duas décadas depois. Mostrando que, no Brasil, a redenção e o paraíso não são para qualquer um. PONTO VII - Os irmãos Batista (imagem), do grupo JBS, protagonizaram os telejornais brasileiros e internacionais com uma delação que pôs abaixo a República. Lembraram, e muito, o personagem Marco Aurélio, protagonizado por Reginaldo Faria, na novela Vale Tudo, de Gilberto Braga, exibida entre 1988 e 1989. Que no final de tudo, foge para o estrangeiro, em seu jatinho cheio de dólares, dando uma banana para todos aqueles que ficam na República afundada. Seria a arte imitando a vida ou a vida que, no Brasil, nunca deixou de imitar a arte e de nos fazer viver em meio uma tragicomédia eterna. 2017 repete 1988. PONTO VIII - Lá como cá, ontem como hoje, o que nos salva e nos faz continuar vivendo é o humor. Os memes não nos deixam mentir. Como foi dito largamente , por todos, ao longo deste século, digo semana, foi a única instituição que funcionou plenamente, no Brasil. PONTO IX - Finalizo a coluna de hoje perguntando: será que a semana/século que se inicia continuará nos levando para o passado ou começaremos a dar passos em direção ao futuro que queremos? Até quando o brasileiro continuará passivo e resignado "com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar"? Será preciso mais quantas Redenções e El Dourados? Será que vidraças e prédios públicos valem mais que uma vida e que a luta por dignidade e justiça social? Por Wagner Geminiano - Doutorando em História pelo PPGH-UFPE.

Wagner Geminiano - Doutorando em História pelo PPGH-UFPE

Wagner Geminiano – Doutorando em História pelo PPGH-UFPE

PONTO I – A coluna buscará pensar os acontecimentos políticos do momento a luz da história. Isso tem um sentido bastante particular, pois estaremos sempre perguntando como foi possível chegar onde chegamos e nos tornar o que nos tornamos? E, acima de tudo, o que foi silenciado, derrotado, excluído, deixado pelo caminho para que chegássemos aonde chegamos e nos tornássemos o que nos tornamos? Só o olhar para o tempo e para a história é capaz de nos apontar respostas.

PONTO II – Vivemos um século em uma semana. Impressiona como, em nosso tempo, os acontecimentos se sucedem de forma vertiginosa. Velocidade, intensidade, volume. Os acontecimentos vêm em cascata. Mal conseguimos dar conta do último e já fomos tragados pelo próximo. Gritamos crise, crise, crise. Estamos a deriva e em meio a tempestade.

PONTO III – A semana que ora termina, foi uma dessas que vale por um século. Os homens do século XVI, no Brasil, mesmo que tenham vivido o século inteiro, jamais viveram tantos e tão intensos acontecimentos como vivemos esta semana. Aliás, vivemos num tempo alongado em que passado e futuro deixaram de existir. 2013 ainda não acabou.

João Dória - Prefeito de São PauloPONTO IV – Mas deixemos de abstrações e vamos a alguns acontecimentos da semana. São Paulo foi jogada de volta ao século XVIII pelo gestor do XXI. Dória (imagem) retoma, sob a Cracolândia, a mesma política higienista que caracterizou as reformas urbanas e o bota abaixo de finais do século XIX. Fez Pereira Passos corar. A Cracolândia é o nosso novo Cabeça de Porco, cortiço símbolo do bota abaixo e das reformas higienistas do XIXI.

PONTO V – Brasília, 24 de Maio de 2017. Manifestações. Movimentos sociais e sindicais nas ruas. Repressão e exército nas ruas. Enfrentamentos, sangue, muito sangue. Tiros, porrada e bomba. A democracia vive, diz o governo. A democracia sangra, estuprada, todos os dias. Digo eu. O que aconteceu em Brasília neste dia em nada diferente dos piores dias de repressão da ditadura. O passado, no Brasil, teima em não passar. Ele se faz presente. Tragicamente presente.

PONTO VI – Dia 24 de Maio de 2017. Pará. Dez mortos chacinados pela polícia em um ato de “reintegração de posse”. Devolve-se a propriedade da terra aos coronéis da casa grande ao preço, cada vez mais barato, da desapropriação da vida dos excluídos da senzala. Redenção reencontra El Dourado, dos Carajás, duas décadas depois. Mostrando que, no Brasil, a redenção e o paraíso não são para qualquer um.

Irmãos Batisa JBS FRIBOIPONTO VII – Os irmãos Batista (imagem), do grupo JBS, protagonizaram os telejornais brasileiros e internacionais com uma delação que pôs abaixo a República. Lembraram, e muito, o personagem Marco Aurélio, protagonizado por Reginaldo Faria, na novela Vale Tudo, de Gilberto Braga, exibida entre 1988 e 1989. Que no final de tudo, foge para o estrangeiro, em seu jatinho cheio de dólares, dando uma banana para todos aqueles que ficam na República afundada. Seria a arte imitando a vida ou a vida que, no Brasil, nunca deixou de imitar a arte e de nos fazer viver em meio uma tragicomédia eterna. 2017 repete 1988.

PONTO VIII – Lá como cá, ontem como hoje, o que nos salva e nos faz continuar vivendo é o humor. Os memes não nos deixam mentir. Como foi dito largamente , por todos, ao longo deste século, digo semana, foi a única instituição que funcionou plenamente, no Brasil.

PONTO IX – Finalizo a coluna de hoje perguntando: será que a semana/século que se inicia continuará nos levando para o passado ou começaremos a dar passos em direção ao futuro que queremos? Até quando o brasileiro continuará passivo e resignado “com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar”? Será preciso mais quantas Redenções e El Dourados? Será que vidraças e prédios públicos valem mais que uma vida e que a luta por dignidade e justiça social?

Por Wagner Geminiano – Doutorando em História pelo PPGH-UFPE.

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