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Coluna Ponto a Ponto (28/06) – O cinismo como estilo de Governo

Coluna Ponto a Ponto (28/06) – O cinismo como estilo de Governo

PONTO I - "O Brasil não é um país para principiantes". Esta frase, atribuída ao compositor António Carlos Jobim, expressa bem a dificuldade que temos de entender e, sobretudo, dizer o momento histórico que estamos vivendo. Este parece ir de encontro e, ao mesmo tempo, escapar a qualquer teoria explicativa da realidade política, econômica e social. Faltam palavras e conceitos para nos dizer. O Brasil é hoje, mais que nunca, o país do absurdo e do cinismo. PONTO II - Os níveis de cinismo que tomaram de assalto a cena da política nacional não encontra paralelo com nenhum outro momento histórico vivido pelo país. Temer, em seu pronunciamento de hoje, após se tornar o primeiro presidente, não eleito, a ser denunciado enquanto ocupa o cargo se tornou a expressão máxima disso. Um ser obscuro, em trânsito por vários tempos e submundos, que as palavras de que dispomos, infelizmente, não são capazes de demovê-lo ou removê-lo do seu trono de cinismo. Apesar de ser um cadáver político. PONTO III - O cinismo não se restringe apenas ao executivo. Legislativo e judiciário também aderiram ao teatro do absurdo e subiram ao palco do cinismo pátrio. E do escárnio em dizer, que apesar do cinismo, as instituições estão funcionando plenamente no Brasil. Talvez estejam mesmo. Hoje, mais que nunca, elas funcionam aberta e deliberadamente em função dos interesses dos privilegiados e poderosos de sempre. PONTO IV - O Estado foi vampirizado - não à toa um morto-vivo ainda ocupar a presidência - pelos interesses privados e privatistas de pequenos grupos empresariais e das mais corruptas e nefastas oligarquias regionais representadas no PMDB e PSDB. PONTO V - O país precisa de um acerto de contas consigo mesmo e com o seu passado. E certamente este acerto de contas não poderá mais passar pela conciliação por cima, entre as elites políticas de sempre. O Brasil não pode mais viver de apagar o seu passado ou tentar contorná-lo. Temos de por fim a 1964 e todos os entulhos autoritários que ainda nos assombram no presente. Precisamos acertar às contas com 1932, com 1954. Com o nosso passado colonial que não nos larga e que hoje se encarna na figura nefasta de Temer e seu governo. PONTO VI - O país precisa romper com a casta do judiciário que tem no cinismo do ministro Gilmar Mendes (imagem) a sua expressão mais vil. A justiça no Brasil não pode mais ser reduzida ao cinismo dos Gilmares e a parcialidade da república de Curitiba, sob pena de termos apenas vingança, em especial para aqueles que mais precisam de uma justiça cega, os mais pobres e humildes. PONTO VII - Precisamos assumir nossa responsabilidade coletiva diante deste quadro assombroso. Além de uma crise ética, também vivemos uma crise de responsabilidade coletiva e de imaginação. Temos uma responsabilidade coletiva em superar um obscuro passado que ainda teima em fazer presença. E não podemos permitir que parte da sociedade imagine como possibilidade de futuro um retorno ainda mais profundo a este passado, encarnado na figura grotesca de um Jair Bolsonaro. PONTO VIII - Aliás, assumir o discurso de que Bolsonaro seria o único limpo em toda esta história é assumir o fracasso do país como sociedade e civilização. Ao reduzir a corrupção ao seu aspecto meramente financeiro e retirar do seu escopo tudo aquilo que fere o humano como, por exemplo, a violência, a tortura, o autoritarismo, o extermínio da vida contido na frase "bandido bom é bandido morto" e dos demais valores degenerados defendidos e encarnados em Bolsonaro. Reduzir a corrupção apenas ao seu aspecto financeiro é se fazer complacente a todo o massacre que as populações pobres e negras deste país sofrem todos os dias. Não podemos mais continuar apenas nos indignando com vidraças quebradas e ficarmos indiferentes a tortura, a violência e ao massacre de milhares, todos os dias, país a fora, nas periferias, nas favelas, nos campos e nas matas deste país. PONTO IX - Precisamos assumir a responsabilidade coletiva de enfrentar nosssos fantasmas do passado que teimam em fazer presença hoje. Para que possamos criar novos horizontes de expectativas. Precisamos reconstituir as utopias. Wagner Geminiano* Doutorando em História pelo PPGH-UFPE. [...]
Coluna Ponto a Ponto (03/06) – Enchente na Mata Sul – Mais uma vez a história se repete

Coluna Ponto a Ponto (03/06) – Enchente na Mata Sul – Mais uma vez a história se repete

Destruição causada pela cheia do Rio Una em Catende, Zona da Mata Sul de Pernambuco( Imagem: Ademar Filho/Futura Press/Folhapress)PONTO I - E na Mata Sul de Pernambuco o presente mais uma vez se faz passado. 2017 repete 2011, 2010, 2000...E os muitos anos de maus tratos ao Rio Una, provocados por ocupações ilegais, pelo assoreamento provocado pelo latifúndio, pelo lixo e esgotos jogados em sua calha, cobra novamente seu preço. Mais uma vez o passado submerge, de entulho, lama e descaso, o presente. PONTO II - Some-se a tragédia de hoje o descaso de sempre dos poderes públicos estaduais para com toda a região da Mata Sul. Transborda, mais uma vez, sobre a Mata molhada a secura de ações e omissões do Estado dos senhores de engenho de hoje, que continuam governando como sempre. PONTO III - Da tragédia à esperança. Rivania. Do sofrimento e do trauma das casas invadidas e tomadas pela água, emerge um símbolo de dor e esperança. Rivania. Disseram: "a menina que salvava livros". Digo: a menina que simboliza o sofrimento de toda uma população e representa um fio de esperança no futuro, de quem sempre viveu no passado e no esquecimento. A tragédia não é só Rivania. Mas Rivania é o símbolo de todo esse passado que não passa e um sopro de esperança da construção de uma outra história no futuro. PONTO IV - A imagem de Rivânia viralizou. A mídia capitaliza e sensacionaliza a tragédia reduzindo-a a uma imagem e história exemplar. Mais uma vez silencia sobre as inúmeras outras "rivanias", que cheia após cheias, continuam submergidas num mar de abandono, descaso e silêncio. Rivanias não podem ser só visíveis na tragédia. Há Rivanias todos os dias. PONTO V - Rivania é o grito de toda uma população, da Mata Sul em especial, contra o descaso e o abandono do Governo do Estado. É a imagem que não deveria ter sido produzida, caso as obras das barragens prometidas não tivessem ficado num passado de promessas não cumpridas. Rivania como futuro de um passado não realizado é o peso que o governo Paulo Câmara tem de carregar, para sempre, o mesmo sempre que ele usou para dizer que a Mata Sul não sofreria mais com enchentes. Esqueceu que o futuro não se faz com um passado de propagandas. Quantas Rivanias mais serão necessárias? Escrito por: Wagner Geminiano - Doutorando em História pelo PPGH-UFPE. Imagens: Juba/ São José da Coroa Grrande -  Ademar Filho/Futura Press/Folhapress) [...]
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