
Jogadoras da Seleção Pernambucana de Advogadas
Eleita sob o símbolo da representatividade feminina, Ingrid Zanella tornou-se a primeira mulher a presidir a OAB Pernambuco. Mas, passados quase 5 meses desde a sua eleição, cresce entre as advogadas o sentimento de decepção. A promessa de protagonismo feminino, que embalou sua candidatura, cedeu lugar à frustração de uma gestão que, na prática, repetiu os vícios do passado.
Os principais cargos da OAB-PE foram entregues a homens. A presidência da CAAPE, a Diretoria-Geral da ESA, a Corregedoria e o Tribunal de Ética e Disciplina estão todos sob comando masculino. No caso do Tribunal de Ética, mais de 75% dos julgadores escolhidos por Ingrid são homens – um dado alarmante diante da histórica luta por paridade e representatividade nas instâncias de poder da Ordem.
A lógica se repete no Conselho Federal da OAB, onde a presidente optou por uma bancada majoritariamente masculina. Dos três representantes, dois são homens. E a única mulher indicada sequer é de Pernambuco ou advoga no estado, tendo construído sua carreira no Distrito Federal, onde atua como Procuradora. Para muitas advogadas, essa escolha revela o afastamento completo da gestão em relação à advocacia feminina do estado.

Ingrid Zanella, presidente da OAB-PE
“É simbólico e doloroso. Com uma mulher na presidência, esperava-se uma ruptura com esse modelo excludente. Mas o que vemos é o aprofundamento do distanciamento institucional. A mensagem passada por Ingrid é de que, tirando ela, não existe mulher advogada em Pernambuco com condições de ocupar cargos de relevância”, afirma uma advogada da Região Metropolitana.
Além da exclusão nos cargos de liderança, cortes em políticas de cuidado e acolhimento voltadas às mulheres aumentaram ainda mais a insatisfação. A atual gestão retirou o apoio às advogadas que praticam esportes – espaços importantes de fortalecimento da saúde física e mental e de sororidade – e também suspendeu o atendimento médico e psicológico gratuito para advogadas em situação de vulnerabilidade.
“O mínimo seria fortalecer o que funcionava. Mas o que vimos foi a eliminação silenciosa dessas iniciativas. A mulher advogada hoje não tem espaço político, nem acolhimento humano dentro da Ordem”, lamenta uma advogada do interior.
Nos bastidores e em redes sociais, a indignação já se converte em articulação. Advogadas que antes caminhavam ao lado da atual gestão agora denunciam o uso oportunista da pauta de gênero. “Não queremos flores no Dia da Mulher, queremos políticas públicas. Queremos lugar na mesa, não um lugar na moldura da foto”, resume uma das lideranças do movimento.
A mensagem é direta: representatividade não é só ocupar o topo. É compartilhar o poder. E, nessa gestão, as mulheres continuam à margem.
