OPINIÃO
Na última semana, os debates televisivos entre os candidatos a prefeito de Teresina e São Paulo trouxeram à tona uma preocupação alarmante para todos que, como eu, acreditam no poder do debate franco e aberto como ferramenta fundamental para o amadurecimento democrático. No entanto, o que deveria ser um espaço para a apresentação de projetos e ideias, transformou-se em um espetáculo de intimidação, agressividade e tentativas de destruição de reputações.
Em Teresina, presenciamos um episódio que ultrapassa o limite da civilidade política: uma cabeçada esdrúxula e o uso da agressão física como forma de intimidação. Em São Paulo, o foco desviou-se completamente dos desafios que a cidade enfrenta, e as discussões centraram-se na vida pessoal dos candidatos, com insinuações sobre o uso de drogas e participação em atividades supostamente escusas, além de fatos públicos que exigem esclarecimento sobre a possibilidade de o prefeito ter mentido a respeito de um boletim de ocorrência policial em decorrência também de uma suposta violência doméstica, tendo sua esposa, presente no debate, como vítima se verdade for, ou algoz se tudo mentira foi. Esses episódios são um prenúncio preocupante da queda vertiginosa na qualidade do debate político, algo que deveria estar centrado na construção de uma sociedade mais justa e nas decisões conscientes dos eleitores.
Sabemos que esses eventos exigem preparo, estudo, e passam por orientações das equipes de comunicação e marketing. Muitas vezes, um chavão, uma reação, é capaz de “viralizar” e até mudar a corrida eleitoral. Contudo, é comum, em cidades onde os prefeitos gozam de alta popularidade, que seus opositores tentem desviar a atenção para questões pessoais, na tentativa de minar a imagem do favorito. É igualmente compreensível que, nessas condições, o candidato líder hesite em participar de debates que não asseguram uma paridade de armas. Esse tipo de confronto, sem garantias de igualdade, tende a transformar-se em um palco para ataques, e não para a troca de ideias.
Mas como a classe eleitora tem percebido essa mudança no cenário dos debates? A crescente aversão dos candidatos ao confronto direto, somada à tentativa de “lacrar” e criminalizar biografias, afasta cada vez mais o eleitor consciente, aquele que busca entender as propostas e votar com responsabilidade. O desejo de assistir a um embate genuíno, onde se discuta o futuro das cidades, tem sido substituído pela decepção ao testemunhar a superficialidade e a agressividade tomarem conta das discussões.
O que se percebe é uma insatisfação crescente do eleitorado com a baixa qualidade dos debates. O que antes era visto como uma oportunidade para formar opinião e decidir o voto, agora é motivo de desânimo e descrença. Precisamos reavaliar o formato desses encontros e garantir que eles voltem a cumprir seu papel essencial: promover o diálogo, a transparência e a escolha consciente.
É fundamental que os candidatos, as emissoras de televisão e a sociedade como um todo reflitam sobre o papel dos debates eleitorais na construção de uma democracia sólida. Somente assim poderemos resgatar a credibilidade e a importância desses eventos, essenciais para o fortalecimento do processo eleitoral e do amadurecimento político de nossa nação.
Delmiro Campos é advogado eleitoral com 18 anos de experiência e um entusiasta do debate aberto e democrático.