Coluna Ponto a Ponto (03/06) – Enchente na Mata Sul – Mais uma vez a história se repete

Coluna Ponto a Ponto (03/06) – Enchente na Mata Sul – Mais uma vez a história se repete

Destruição causada pela cheia do Rio Una em Catende, Zona da Mata Sul de Pernambuco( Imagem: Ademar Filho/Futura Press/Folhapress)PONTO I - E na Mata Sul de Pernambuco o presente mais uma vez se faz passado. 2017 repete 2011, 2010, 2000...E os muitos anos de maus tratos ao Rio Una, provocados por ocupações ilegais, pelo assoreamento provocado pelo latifúndio, pelo lixo e esgotos jogados em sua calha, cobra novamente seu preço. Mais uma vez o passado submerge, de entulho, lama e descaso, o presente. PONTO II - Some-se a tragédia de hoje o descaso de sempre dos poderes públicos estaduais para com toda a região da Mata Sul. Transborda, mais uma vez, sobre a Mata molhada a secura de ações e omissões do Estado dos senhores de engenho de hoje, que continuam governando como sempre. PONTO III - Da tragédia à esperança. Rivania. Do sofrimento e do trauma das casas invadidas e tomadas pela água, emerge um símbolo de dor e esperança. Rivania. Disseram: "a menina que salvava livros". Digo: a menina que simboliza o sofrimento de toda uma população e representa um fio de esperança no futuro, de quem sempre viveu no passado e no esquecimento. A tragédia não é só Rivania. Mas Rivania é o símbolo de todo esse passado que não passa e um sopro de esperança da construção de uma outra história no futuro. PONTO IV - A imagem de Rivânia viralizou. A mídia capitaliza e sensacionaliza a tragédia reduzindo-a a uma imagem e história exemplar. Mais uma vez silencia sobre as inúmeras outras "rivanias", que cheia após cheias, continuam submergidas num mar de abandono, descaso e silêncio. Rivanias não podem ser só visíveis na tragédia. Há Rivanias todos os dias. PONTO V - Rivania é o grito de toda uma população, da Mata Sul em especial, contra o descaso e o abandono do Governo do Estado. É a imagem que não deveria ter sido produzida, caso as obras das barragens prometidas não tivessem ficado num passado de promessas não cumpridas. Rivania como futuro de um passado não realizado é o peso que o governo Paulo Câmara tem de carregar, para sempre, o mesmo sempre que ele usou para dizer que a Mata Sul não sofreria mais com enchentes. Esqueceu que o futuro não se faz com um passado de propagandas. Quantas Rivanias mais serão necessárias? Escrito por: Wagner Geminiano - Doutorando em História pelo PPGH-UFPE. Imagens: Juba/ São José da Coroa Grrande -  Ademar Filho/Futura Press/Folhapress)

Destruição causada pela cheia do Rio Una em Catende, Zona da Mata Sul de Pernambuco( Imagem: Ademar Filho/Futura Press/Folhapress)

Destruição causada pela cheia do Rio Una em Catende, Zona da Mata Sul de Pernambuco( Imagem: Ademar Filho/Futura Press/Folhapress)PONTO I – E na Mata Sul de Pernambuco o presente mais uma vez se faz passado. 2017 repete 2011, 2010, 2000…E os muitos anos de maus tratos ao Rio Una, provocados por ocupações ilegais, pelo assoreamento provocado pelo latifúndio, pelo lixo e esgotos jogados em sua calha, cobra novamente seu preço. Mais uma vez o passado submerge, de entulho, lama e descaso, o presente.

PONTO II – Some-se a tragédia de hoje o descaso de sempre dos poderes públicos estaduais para com toda a região da Mata Sul. Transborda, mais uma vez, sobre a Mata molhada a secura de ações e omissões do Estado dos senhores de engenho de hoje, que continuam governando como sempre.

Rivânia São José da Coroa GrandePONTO III – Da tragédia à esperança. Rivania. Do sofrimento e do trauma das casas invadidas e tomadas pela água, emerge um símbolo de dor e esperança. Rivania. Disseram: “a menina que salvava livros”. Digo: a menina que simboliza o sofrimento de toda uma população e representa um fio de esperança no futuro, de quem sempre viveu no passado e no esquecimento. A tragédia não é só Rivania. Mas Rivania é o símbolo de todo esse passado que não passa e um sopro de esperança da construção de uma outra história no futuro.

PONTO IV – A imagem de Rivânia viralizou. A mídia capitaliza e sensacionaliza a tragédia reduzindo-a a uma imagem e história exemplar. Mais uma vez silencia sobre as inúmeras outras “rivanias”, que cheia após cheias, continuam submergidas num mar de abandono, descaso e silêncio. Rivanias não podem ser só visíveis na tragédia. Há Rivanias todos os dias.

PONTO V – Rivania é o grito de toda uma população, da Mata Sul em especial, contra o descaso e o abandono do Governo do Estado. É a imagem que não deveria ter sido produzida, caso as obras das barragens prometidas não tivessem ficado num passado de promessas não cumpridas. Rivania como futuro de um passado não realizado é o peso que o governo Paulo Câmara tem de carregar, para sempre, o mesmo sempre que ele usou para dizer que a Mata Sul não sofreria mais com enchentes. Esqueceu que o futuro não se faz com um passado de propagandas. Quantas Rivanias mais serão necessárias?

Escrito por: Wagner Geminiano – Doutorando em História pelo PPGH-UFPE.

Imagens: Juba/ São José da Coroa Grrande –  Ademar Filho/Futura Press/Folhapress)

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