Coluna Ponto a Ponto (22/07) – A República fora do horizonte de expectativas do Brasil.

Coluna Ponto a Ponto (22/07) – A República fora do horizonte de expectativas do Brasil.

PONTO I - O historiador alemão Reinhart Koselleck afirma que os projetos de futuro no passado foram aquilo que mobilizou às sociedades ocidentais a partir do século XVIII. Tais sociedades mobilizavam-se a partir dos horizontes de expectativas em disputa em um dado espaço de experiência. Por que retomo esta questão? Para pensar nosso momento histórico. No Brasil de hoje os horizontes de expectativa se desfazem num espaço de experiência em que a desesperança e a apatia provocam a negação de qualquer possibilidade de futuro. O Brasil hoje é um país sem futuro. A matilha no poder nos tirou as expectativas de futuro. Nosso futuro é sempre um passado reeditado. PONTO II - E reeditamos um passado cada vez mais tenebroso. As facções em disputa pelo poder de Estado colocaram por terra qualquer possibilidade de república e de relações institucionais republicanas. Vivemos uma guerra de facções em que governo, legislativo, judiciário e mídia se engalfinham como hienas e abutres na disputa pelos restos da carcaça que um dia nomeamos e buscamos construir como estado brasileiro, como nação, como república. PONTO III - A nação está sob a égide da "força da grana que ergue e destrói coisas belas". Estamos nas mãos de elites econômicas feitoreiras que só pensam em espoliar o país e que, hoje, como ontem, têm os olhos, o corpo e alma voltados para o estrangeiro. Onteontem para Coimbra, ontem para Paris, hoje para Miami. Amanhã para qualquer outra coisa que não se chame Brasil. PONTO IV - Nossas elites políticas no poder de estado são as mais abjetas que se tem notícia na nossa história. Jarbas Vansconcelos afirmou, dia desses, que se encontra políticos em Brasília para qualquer acordo, menos nomes que queiram discutir o Brasil. Pensar o país não interessa a imensa maioria de nossos deputados, senadores e ministros em Brasília. Interessa-lhe o poder de estado revertido em emendas, prebendas, cargos e posições que ratifiquem o patrimonialismo que está no DNA de suas formações. PONTO V - Para dizer que não falei das flores. A classe trabalhadora ainda vive a ressaca da dolorosa derrota sofrida a cerca de 10 dias atrás. Os vencedores de sempre continuam vencendo, e de goleada. Só que esta derrota não é fruto somente do volume de jogo do inimigo. É preciso considerar a desmobilização produzida pelo Partido dos Trabalhadores, quando no poder, dos movimentos sociais, dos sindicatos e congêneres utilizando-se dos mesmos expedientes com os quais o governo não eleito, hoje, coopta deputados e senadores. Ou seja, com sinecuras, prebendas, emendas e liberação de recursos. Hoje quando se precisa da torcida para reagir, ela encontra-se desmobilizada em sua base. PONTO VI - Machado de Assis dizia, já no século XIX, que havia um Brasil oficial e um Brasil real. E que ambos estavam separados por um abismo intransponível forjado pela desigualdade social e a distância pela qual nossas elites sempre impuseram à "raia miúda" das decisões da construção do Estado e da Nação. Hoje este abismo é ainda maior. E o fosso além de se esgarçar ainda mais interpõe entre um país e outro o muro do cinismo. Assistir Temer se pronunciando da a dimensão desse fosso. Ele parece viver em outro mundo, em um outro tempo. E vive. Ele é a expressão mais abjeta do Brasil oficial, que se completa com figuras como a de Aécio Neves e Gilmar Mendes. PONTO VII - Há uma zona cinzenta, muito pouco comentada e ainda bastante obscura nos acontecimentos que constroem estes dias tristes. Qual seja: o silêncio das forças armadas. O que ele significa? Respeito a ordem constitucional? Zelo para com a hierarquia? Sentido democrático? Acredito que não. O silêncio das forças armadas e de sua cúpula representa a total conivência com estes dias tristes. Eles foram as primeiras instituições a garantirem o seu quinhão nos despojos de guerra pós-impeachment. Estão fora de todas as reformas que atingem os simples mortais. Impuseram seus interesses pelo medo dos "milicos" nas ruas que ainda assombra nosso imaginário civil, a esquerda e a direita. E, no Brasil, as Forças Armadas sempre tiveram um histórico conservador, quando não reacionário. Nada de novo no front, portanto. PONTO VIII - E as panelas teflon? Por que silenciaram, mesmo diante do caos político e institucional em que o país se encontra? Mesmo diante da corrupção generalizada e explícita? O silêncio é complacente. A indignação das panelas teflon nunca foi contra a corrupção. Era contra o PT, contra Lula e Dilma. Era contra a aproximação social com os extratos inferiores. A indiferenciação social com os de baixo é o seu grande pesadelo. Por isso que mesmo com um aumentou de impostos colossal sobre os combustíveis continuam mudas. Vai ficar mais difícil os pobres não só comprarem, mas, sobretudo, manterem um carro novo. Logo logo ele volta a ser símbolo e exclusividade classe média. Para que bater panela? As coisas estão voltando ao seu lugar. Ordem e Progresso. PONTO IX - E seguimos. "Sem lenço e sem documentos", "nada no bolso ou nas mãos" e "esperando a banda passar". "Vai passar"..."Vai passar". Wagner Geminiano* Doutorando em História pelo PPGH-UFPE e colunista semanal do Blog Ponto de Vista

PONTO I – O historiador alemão Reinhart Koselleck afirma que os projetos de futuro no passado foram aquilo que mobilizou às sociedades ocidentais a partir do século XVIII. Tais sociedades mobilizavam-se a partir dos horizontes de expectativas em disputa em um dado espaço de experiência. Por que retomo esta questão? Para pensar nosso momento histórico. No Brasil de hoje os horizontes de expectativa se desfazem num espaço de experiência em que a desesperança e a apatia provocam a negação de qualquer possibilidade de futuro. O Brasil hoje é um país sem futuro. A matilha no poder nos tirou as expectativas de futuro. Nosso futuro é sempre um passado reeditado.

PONTO II – E reeditamos um passado cada vez mais tenebroso. As facções em disputa pelo poder de Estado colocaram por terra qualquer possibilidade de república e de relações institucionais republicanas. Vivemos uma guerra de facções em que governo, legislativo, judiciário e mídia se engalfinham como hienas e abutres na disputa pelos restos da carcaça que um dia nomeamos e buscamos construir como estado brasileiro, como nação, como república.

PONTO III – A nação está sob a égide da “força da grana que ergue e destrói coisas belas”. Estamos nas mãos de elites econômicas feitoreiras que só pensam em espoliar o país e que, hoje, como ontem, têm os olhos, o corpo e alma voltados para o estrangeiro. Onteontem para Coimbra, ontem para Paris, hoje para Miami. Amanhã para qualquer outra coisa que não se chame Brasil.

PONTO IV – Nossas elites políticas no poder de estado são as mais abjetas que se tem notícia na nossa história. Jarbas Vansconcelos afirmou, dia desses, que se encontra políticos em Brasília para qualquer acordo, menos nomes que queiram discutir o Brasil. Pensar o país não interessa a imensa maioria de nossos deputados, senadores e ministros em Brasília. Interessa-lhe o poder de estado revertido em emendas, prebendas, cargos e posições que ratifiquem o patrimonialismo que está no DNA de suas formações.

PONTO V – Para dizer que não falei das flores. A classe trabalhadora ainda vive a ressaca da dolorosa derrota sofrida a cerca de 10 dias atrás. Os vencedores de sempre continuam vencendo, e de goleada. Só que esta derrota não é fruto somente do volume de jogo do inimigo. É preciso considerar a desmobilização produzida pelo Partido dos Trabalhadores, quando no poder, dos movimentos sociais, dos sindicatos e congêneres utilizando-se dos mesmos expedientes com os quais o governo não eleito, hoje, coopta deputados e senadores. Ou seja, com sinecuras, prebendas, emendas e liberação de recursos. Hoje quando se precisa da torcida para reagir, ela encontra-se desmobilizada em sua base.

PONTO VI – Machado de Assis dizia, já no século XIX, que havia um Brasil oficial e um Brasil real. E que ambos estavam separados por um abismo intransponível forjado pela desigualdade social e a distância pela qual nossas elites sempre impuseram à “raia miúda” das decisões da construção do Estado e da Nação. Hoje este abismo é ainda maior. E o fosso além de se esgarçar ainda mais interpõe entre um país e outro o muro do cinismo. Assistir Temer se pronunciando da a dimensão desse fosso. Ele parece viver em outro mundo, em um outro tempo. E vive. Ele é a expressão mais abjeta do Brasil oficial, que se completa com figuras como a de Aécio Neves e Gilmar Mendes.

PONTO VII – Há uma zona cinzenta, muito pouco comentada e ainda bastante obscura nos acontecimentos que constroem estes dias tristes. Qual seja: o silêncio das forças armadas. O que ele significa? Respeito a ordem constitucional? Zelo para com a hierarquia? Sentido democrático? Acredito que não. O silêncio das forças armadas e de sua cúpula representa a total conivência com estes dias tristes. Eles foram as primeiras instituições a garantirem o seu quinhão nos despojos de guerra pós-impeachment. Estão fora de todas as reformas que atingem os simples mortais. Impuseram seus interesses pelo medo dos “milicos” nas ruas que ainda assombra nosso imaginário civil, a esquerda e a direita. E, no Brasil, as Forças Armadas sempre tiveram um histórico conservador, quando não reacionário. Nada de novo no front, portanto.

PONTO VIII – E as panelas teflon? Por que silenciaram, mesmo diante do caos político e institucional em que o país se encontra? Mesmo diante da corrupção generalizada e explícita? O silêncio é complacente. A indignação das panelas teflon nunca foi contra a corrupção. Era contra o PT, contra Lula e Dilma. Era contra a aproximação social com os extratos inferiores. A indiferenciação social com os de baixo é o seu grande pesadelo. Por isso que mesmo com um aumentou de impostos colossal sobre os combustíveis continuam mudas. Vai ficar mais difícil os pobres não só comprarem, mas, sobretudo, manterem um carro novo. Logo logo ele volta a ser símbolo e exclusividade classe média. Para que bater panela? As coisas estão voltando ao seu lugar. Ordem e Progresso.

PONTO IX – E seguimos. “Sem lenço e sem documentos”, “nada no bolso ou nas mãos” e “esperando a banda passar”. “Vai passar”…”Vai passar”.

Wagner Geminiano*
Doutorando em História pelo PPGH-UFPE e colunista semanal do Blog Ponto de Vista

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