Diante da falta de acordo entre a Prefeitura de Garanhuns e o Governo do Estado para a realização do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) em 2024, a Comissão de Educação promoveu uma audiência pública na última segunda-feira (13) para discutir as ameaças ao evento, reconhecido como Patrimônio Imaterial de Pernambuco. Durante o encontro, os participantes enfatizaram a importância de assegurar não apenas a continuidade do FIG, mas também a preservação de um formato que englobe diversas expressões artísticas, como música, teatro, literatura e atividades educativas.
Carla Pereira, diretora de Ações Culturais da Fundarpe, relatou as tentativas de estabelecer um termo de cooperação para que o Executivo Estadual continuasse como organizador do festival. Segundo ela, a Prefeitura quebrou protocolos ao divulgar antecipadamente os shows do Palco Mestre Dominguinhos, desrespeitando os artistas culturais de Pernambuco, e não concordou em conceder qualquer tipo de autonomia ao Estado para realizar o evento.
“Antes do festival do ano passado finalizar, já foi divulgado pelo prefeito que a gente não faria o Festival de Inverno junto com eles. Na audiência que tivemos aqui, a primeira, isso ficou muito nítido, tá nos autos. Então não é uma coisa que o Estado sai, é uma coisa que o Estado foi praticamente retirado. E todas as propostas levantadas não foram aceitas”, afirmou.
Cacau de Paula, secretária estadual de Cultura, afirmou que o anúncio da grade de programação de shows pela Prefeitura de Garanhuns em 2 de maio levou o Estado a decidir participar do Festival apenas como patrocinador. As cotas serão financiadas com parte da verba originalmente destinada ao FIG no orçamento deste ano, totalizando R$ 17 milhões, enquanto o restante será utilizado para apoiar outras iniciativas de promoção e descentralização da cultura.
“Esta foi uma decisão para este ano, devido ao que foi apresentado. Mas como Carla bem disse, todos os serviços do Estado estão, sim, e vão estar à disposição do FIG para que ele chegue nos fazedores de cultura, para que a gente tenha essa participação popular, para garantir que o FIG seja esse evento tão importante para o estado de Pernambuco”, garantiu.
Na avaliação da deputada Rosa Amorim (PT), os fazedores de cultura perdem com a transformação do Governo do Estado, que sempre foi o idealizador do FIG, em mero patrocinador. A parlamentar também se disse preocupada com a entrada de parceiros privados e a possibilidade de “camarotizar” um festival que sempre foi público.
Duas vezes prefeito de Garanhuns e líder do governo na Alepe, Izaías Régis (PSDB) destacou a importância do FIG para a economia da cidade e para a formação de uma classe de realizadores do próprio município. Na avaliação de Régis, a Prefeitura não tem condições de assumir por completo um festival que chega a contar com 600 profissionais apenas na fase de preparação do evento.
O deputado João Paulo (PT), que solicitou a audiência, observou que o Legislativo não pode interferir nas decisões dos municípios, mas sugeriu a realização de uma nova reunião para avaliar o evento, depois que ele for realizado. A Comissão de Educação também deve encaminhar questionamentos para a Prefeitura de Garanhuns e para o Governo do Estado.
“O evento é do Estado, o prefeito não aceita, e quem é que resolve esse impasse? O Governo do Estado vai fazer em outra cidade? Vai ter um festival em outra cidade? Vai ter um processo de judicialização dessa situação? São perguntas que eu deixo registradas aqui, e vamos encaminhar”, salientou. João Paulo também questionou quem vai arcar com as despesas do festival e qual a participação dos parceiros privados.